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A RDC 15 tem proporcionado à saúde importante contribuição na melhoria dos serviços de esterilização em todo País. Infelizmente tenho a impressão, que salvo algumas instituições, a maioria faz vista grossa no aspecto qualificação de equipamentos, especialmente seladoras.

Vamos primeiro à definição prática de alguns conceitos:

1-Calibrar, significa medir uma determinada grandeza (por exemplo a temperatura da seladora) e compará-la à temperatura indicada por um padrão cuja incerteza é conhecida, apontando em relatório a diferença. Não significa ajustar um equipamento. Assim calibrar a seladora significa apenas apontar a diferença entre temperatura indicada na seladora e temperatura indicada em um instrumento padrão com rastreabilidade.

2-Qualificar, significa adotar uma série de procedimentos normativos ou definidos em comum acordo entre cliente e prestadora de serviço, que visam testar um equipamento em diversas condições e concluir se este atende ou não aos critérios de aceitação pré-definidos.

3-Validar, significa verificar através da qualificação de instalação, qualificação de operação e qualificação de desempenho, se um processo cumpre de forma reprodutível e consistente o objetivo ao qual se destina.

Assim definido: Instrumentos de medição podem ser calibrados, equipamentos podem ser qualificados e processos podem ser validados. Não se pode validar uma seladora ou uma autoclave, mas pode-se validar o processo de selagem e o processo de esterilização.

A RDC 15 em seu parágrafo 38 diz: As leitoras de indicadores biológicos e as seladoras térmicas devem ser calibradas, no mínimo anualmente.

Como ponto básico, podemos afirmar que uma vez as embalagens tenham sido produzidas com um padrão de qualidade que atenda normas internacionais como EN 868 e ISO 11607, ou a Brasileira NBR 14990, o  fator crítico quanto ao desempenho do invólucro é o equilíbrio entre  capacidade de permanecer selada e inviolável aos microorganismos, durante a esterilização e manuseio e abrir com suavidade, sem rasgos, no momento do uso do material. Esse equilíbrio é  atribuído ao processo de selagem.

Normalmente os coordenadores das centrais de esterilização se mostram mais preocupados com o fechamento que com abertura, mas esse segundo fator é tão importante quanto o primeiro. Vale lembrar que uma embalagem selada com força excessiva pode acabar estressando o papel ou o filme no momento da abertura, ocasionando fissuras indesejadas e comprometendo a transferência asséptica durante o ato cirúrgico. Não é incomum encontrar usuários reclamando da qualidade das embalagens, que rasgam durante o processo de abertura, ou que abrem inadvertidamente durante a esterilização, devido a selagens demasiadamente fortes ou muito fracas.

Entendendo o processo de selagem térmica 

O processo de selagem térmica presente na maioria das centrais de esterilização quer utilizem ETO, Plasma de Peróxido de Hidrogênio, Formaldeído, quer usem vapor saturado, é realizada por seladoras que tem como princípio básico a fusão do filme plástico às fibras do material poroso, não importando se essa face porosa seja  TYVEK® ou papel grau cirúrgico. Essa fusão é realizada pelo “derretimento” de uma das camadas do filme, que após pressionada contra o material poroso, por um determinado tempo, penetra entre as fibras e causa o ancoramento.  Dessa forma temperatura, pressão e tempo de transferência do filme “derretido” são os fatores que podem aumentar ou diminuir a força de separação.

Como uma seladora deve ser calibrada e como um processo de selagem deve ser validado?

Itens a serem verificados na calibração completa da seladora:

-Calibração da temperatura

-Calibração da força de selagem

-Calibração da velocidade ou tempo de selagem

É relevante destacarmos que seladoras não automáticas, cujo processo de selagem é feito por pressão manual, não podem ser calibradas em todas as suas grandezas, uma vez que a pressão exercida não permite repetibilidade. Nesse caso, apenas a temperatura pode ser calibrada, deixando o processo de selagem não controlado.

Itens a serem verificados na validação do processo de selagem:

            – Qualificação da instalação

                        – Local da instalação

                        – Fornecimento de energia de acordo com recomendação do fabricante

            – Qualificação operacional

                        – Teste de todas as funcionalidades do equipamento

                        – Calibração da malha de temperatura

                        – Calibração da velocidade/tempo de selagem

                        – Calibração da força de selagem

                        – Teste de vazamento com corante na concentração e diluição recomendada.

            – Qualificação de desempenho

                        – Teste da força de selagem com amostras dos materiais a serem selados antes e após o processo de esterilização.

                        – Teste de vazamento após processo de esterilização.

            – Definição de teste rotineiro

                        – Seal Check ou equivalente

                        – Blue test ou equivalente

Conclusão:

Somente a calibração da temperatura da seladora, que normalmente é realizada em algumas instituições, visto que outras nem isso o fazem, não garante absolutamente nada da qualidade do processo de fechamento.

A Norma NBR ISO 11607-1 e 2 quando aplicadas por Organismos Acreditadores, expõe as CMEs definindo que a validação do processo seja realizada.

Acreditar que uma fração do procedimento de validação, possa substituir toda validação é um erro grande e que deve ser coibido. Utilizar-se de monitores com Seal Check e Blue Test ou equivalentes, garantem um melhor controle sobre o processo validado e devem ser implementados, mas não o substituem.

 

TYVEK : marca registrada da DUPONT

 

Mini currículo

Roberto S M Pereira

Engenheiro Eletrônico formado pela Faculdade de Engenharia São Paulo

Adm em Marketing pela FAAP

Trabalhou por 15 anos na empresa de embalagens para esterilização AMCOR

Presidiu grupos ABNT para elaboração da NBR 14990-1 e suas partes –Sistema de Embalagem para Saúde

Participou dos grupos de Estudo da ABNT para versão brasileira NBR da ISO 11607-1 e 2- Packaging for terminally sterilized medical devices

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A IMPORTÂNCIA DA MONITORIZAÇÃO EFICAZ EM TODAS AS CARGAS NO PROCESSO DE ESTERILIZAÇÃO

Diversos são os fatores que interferem nos resultados de um processo eficaz de esterilização, seja no processo a vapor tendo a água como o agente esterilizante ou nos processos especificamente químicos, como Óxido de Etileno, Formaldeído e Peróxido de Hidrogênio. Fatores como a composição e o perfil da carga, o posicionamento e a distribuição dos artigos, a quantidade ou volume ocupado do equipamento esterilizante e o desempenho e comportamento dos parâmetros de cada ciclo destes equipamentos, são fatores que refletem diretamente nos resultados de um processo de esterilização.

Artigos com grandes volumes e superfícies planas ou artigos complexos e rico em lúmens, compõem um perfil de carga que requerem parâmetros que atendam a estas necessidades e desafios para garantir a penetração do agente esterilizante proporcionando eficácia na esterilização de todos os artigos envolvidos.

O monitoramento é necessário para garantir eficácia e segurança na reprodutibilidade do processo. Deve-se monitorar o padrão estabelecido de volume, posicionamento e distribuição, mediante colaboradores executores desta tarefa, que devem ter como auxílio o POP pré-estabelecido pós validação de processo, bem como monitorar com o auxílio de monitores de processos de esterilização.

Há monitores que avaliam a eficiência da remoção de ar dos equipamentos, quando estes possuem esta função, chamados de Teste de Bowie Dick, realizados uma vez ao dia conforme RDC 15/2012 . Monitores que avaliam se nos pontos em que estão, houve ou não a penetração do agente esterilizante em seus parâmetros requeridos, chamados de Integradores Químicos. E monitores que avaliam se os parâmetros estabelecidos estão provocando a morte microbiana através do teste de morte do microorganismo estabelecido para cada agente esterilizante. Temos ainda os monitores liberadores de carga, eles são monitores químicos utilizados em um pacote desafio que avaliam se o agente esterilizante atingiu todos os artigos expostos ao processo, devem monitorar todas as cargas utilizadas no equipamento, conforme RDC 15/2012.

           No intuito de atender a resolução quanto ao uso de pacotes desafios junto aos monitores de processos, vemos na pratica diversos tipos de confecções de pacotes desafios sem o questionamento se há desafio real nestas confecções. Pacotes feitos com compressas, embalagem de grau cirúrgico, uma ou duas unidades de campo de algodão ou ainda artigos caseiros sem padrões específicos e atendimento de normas.

         O pacote desafio deve representar um desafio tal qual é a realidade de quem o utiliza, portanto deve ser padronizado proporcionalmente ao perfil da carga, ele deve representar seu maior desafio.

No monitoramento contínuo do processo sob o uso de pacote desafio temos na RDC 15 art.96: “O monitoramento do processo de esterilização deve ser realizado em cada carga em pacote teste desafio com integradores químicos (classes 5 ou 6), segundo rotina definida pelo próprio CME ou pela empresa processadora”. Este monitor é denominado como liberador de carga, ele tem a função de avaliar a presença dos parâmetros para a esterilização do seu agente esterilizante em cada ciclo realizado, tornando-se um excelente aliado na eficiência da monitorização dos processos de esterilização desde que seja utilizado corretamente.

O liberador de carga deve ser utilizado sempre com um pacote desafio por ele simular a dificuldade de penetração no interior das cargas e dos artigos, logo se torna um fator importante na eficiência do processo. Ele deve ser posicionado no ponto mais crítico do equipamento, proporcionando a segurança de que se o ponto mais crítico e vulnerável do equipamento recebeu com eficiência a penetração do agente esterilizante, logo os outros pontos mais favoráveis também, avaliando assim toda a carga.

O uso correta do pacote desafio utilizado no liberador de carga garante adequação ao perfil da realidade de cada Instituição quanto as características de suas cargas e a real penetração em todos os artigos.

Artigos de lúmens canulados são desde o início desafiadores ao processo. Conhecemos que para um artigo ser esterilizado, seu agente esterilizante precisa entrar em contato com toda a superfície dele, ou seja, a penetração do agente esterilizante em todas as partes, mesmo que estas partes sejam internas e minimamente acessíveis.

Liberadores de carga em pacotes desafios como: embalagens de grau cirúrgico, compressas ou ainda uma ou outra unidade de tecidos de algodão, não são pacotes desafiadores, bem como dispositivos caseiros sem atendimento de normas não são produtos seguros para utilização.

Um bom produto na garantia do processo eficiente são os pacotes desafios padronizados de liberador de carga de acordo com a EN ISO 11140-1, oferecidos no mercado. Os pacotes padronizados nos garantem o atendimento as normas estabelecidas. Trazendo facilidade e prática, principalmente garantia de assertividade e qualidade.

Entretanto existe ainda o pacote desafio padronizado para canulados de liberador de carga, de acordo com a 11140-1 e EN 867-5, permanente ou não. O permanente além da praticidade, segurança e garantia no processo trazem ainda economia.

A utilização de um pacote desafio do liberador de carga que faça a simulação dos canulados é um aliado essencial para o monitoramento e garantia do processo. Adotar pacotes desafios aleatórios, foge do objetivo da sua utilização.

Ao utilizar o liberador de carga em pacote desafio canulado de acordo com o perfil e desempenho do equipamento utilizado para monitorar cada carga, garantimos 100% de monitoramento e rastreabilidade da eficiência do processo, ao final de cada ciclo temos a avaliação da tira química para liberação ou não da carga para a utilização.

Um bom processo de esterilização deve ser cercado de monitorização eficiente e objetiva rotineiramente, proporcionando segurança e estabilidade ao processo.

Acredito que liberadores de cargas que não proporcionam pacote desafiador com  garantia de avalição de lumens para monitorar a eficácia da esterilização, é fazer uma avaliação superficial do processo e banalizar a segurança da esterilização.

Garantir padrões alinhados aos fatores de composição junto a equipe e uma constante monitorização eficiente dos parâmetros pré-estabelecidos em processos de validação, minimizará os interferentes proporcionando alta eficácia do processo.

ABNT NBR ISSO 17665-1 Define: Dispositivo de desafio de Processo PCD (Process challenge device) Item designado para constituir uma resistência definida a um processo de esterilização e usado para avaliar o desempenho do processo.

 

Marcia Alves
Enfermeira de Central de Material e Esterilização
Pós-graduada pela Faculdade Albert Einstein em Gestão de Qualidade em Saúde.

Para acessar o conteúdo clique no link abaixo:
Príncipios básicos em cinéticas de morte e projetos de processos de esterilização
Autor: Dr. Ulrich Kaiser, gke GmbH

Para acessar o conteúdo clique no link abaixo:
Cinética de morte bacteriana, indicadores biológicos e letalidade de ciclos de esterilização a vapor.
Artigo públicado Engenheiro Roberto Pereira.

PERGUNTA 

Se na carga da autoclave estiver o teste desafio para biológico e integrador, não preciso colocar integrador químico nas minhas caixas porém surgiu uma dúvida em relação a isso:  As  autoclaves devem passar por validação e qualificação antes de retirar os integradores químicos e de introduzir o teste desafio ?

RESPOSTA

Para se usar um pacote desafio com integradores e biológicos afim de simular a dificuldade de penetração em uma determinada carga, é necessário que o desafio tenha sido testado e simule realmente sua carga mais desafiadora. Utilizar um desafio sem que ele tenha sido testado é um risco.

Se houver uma autoclave não qualificada e o processo não validado, a colocação de integradores químicos Classe 5 ou Classe 6 no interior das caixas, não garante que o vapor atingiu os pontos mais difíceis, ou seja , o interior dos canulados. Isso apenas criará uma falsa aparência de segurança.

O conhecimento dos limites de um processo de esterilização é parte fundamental para um monitoramento correto e preciso que evita desperdício de dinheiro e garante qualidade. Normalmente a ecomomia de consumo de 500 a 1000 integradores classe 5 por mês, utilizados de forma indiscriminada, é suficiente para custear uma boa validação de processo anual. Uma vez feita a validação, a substituição dos integradores, por pacote desafio corretamente dimensionados, torna o processo seguro e documentado.

Portanto qualquer alteração será sempre melhor respaldada com a validação do processo. A RDC 15 pede validação anual do processo de esterilização. Essa é uma boa oportunidade para documentar uma alteração feita.